terça-feira, 5 de junho de 2007

HISTÓRIA DA IGREJA - Século I


Os Primeiros Discípulos de Jesus - Pe. José Artulino Besen*


A história da comunidade cristã, a Igreja, está situada dentro do plano eterno de Deus de salvar o gênero humano. Após o pecado dos primeiros pais, o plano de salvação passou a ser a redenção: o Filho de Deus escolheu o caminho da encarnação num povo concreto, o povo judeu, no ventre de uma mulher, Maria de Nazaré. Nascido em Belém, criado em Nazaré da Galiléia, aos trinta anos Jesus iniciou sua missão de congregar discípulos que o aceitassem como Senhor e Salvador. Dentre todos escolheu doze, denominados apóstolos, com quem compartilhou de modo mais íntimo sua palavra e vida.
Sua mensagem se distanciava do legalismo do templo de Jerusalém e, seguindo o espírito dos grandes profetas do Antigo Testamento, anunciava um culto em espírito e verdade, concretizado na prática da misericórdia para com todos os excluídos: pecadores, órfãos, viúvas, estrangeiros, doentes e pobres. Quer congregar em si todos os filhos de Deus dispersos.
A missão do Espírito congrega os primeiros cristãos
No terceiro ano de sua vida pública, estando em Jerusalém para a festa da Páscoa, Jesus foi preso, condenado à morte e crucificado. Sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e apareceu aos apóstolos, às mulheres, discípulos, centenas de pessoas do meio do povo. Quarenta dias após a ressurreição, subiu aos céus, reassumindo a condição divina. O Filho de Deus feito homem levou ao seio da Trindade a natureza humana. Assim se realizou o projeto divino de salvação: a divinização do ser humano através da humanização do Filho.
Do ponto de vista teológico, a Igreja tem início na Sexta-feira santa, com a morte redentora de Jesus Cristo. Mas, a comunidade cristã visível começa com a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. A missão do Espírito, prometido por Jesus, dá vida a um novo povo.
Movido pelo entusiasmo, Pedro se põe a falar, convidando os ouvintes à conversão e ao batismo, nesse dia agregando à Igreja 5 mil convertidos (At 2,41; 4,4).
Os ouvintes de Pedro eram judeus provenientes das mais distantes regiões do império romano e que estavam em Jerusalém para a festa (At 2,9-10). Os judeus não nascidos na Palestina continuavam fiéis a suas obrigações para com a Lei.
São eles que levam para os pontos mais distantes do império a notícia de um homem de Nazaré, crucificado e ressuscitado, Messias de Deus e falam da experiência do Espírito Santo. Cheios de entusiasmo comentam milagres, curas, libertações, pecadores convertidos, homens e mulheres que deixavam tudo para se fazerem missionários da fé renovada, pescadores ignorantes que repentinamente falam maravilhas, arrastando as pessoas para esse novo caminho de vida e salvação, aceitando a prisão, os açoites, a difamação, mas perseverando fiéis a Jesus Cristo, seu único Senhor.
Um novo estilo de viver a fé
Surge um novo modo de viver a fé: a multidão era um só coração e uma só alma. Tinha tudo em comum e ninguém passava necessidade (At 4,32-35). Certamente que havia egoísmo, competição, mas a partilha fraterna era o ideal anunciado para os seguidores de Jesus. Não basta ir ao templo de pedra e barro, nem basta elevar as mãos ao céu: é necessário tocar o coração humano com a misericórdia.
É importante lembrar que os primeiros cristãos foram judeus e se consideravam judeus, mas com um modo diferente de viver a Lei e os Profetas. Os judeu-cristãos viviam lado a lado com os judeus, que os admiravam, mesmo não assumindo sua fé. O mundo religioso judaico era multifacetado, não havendo grande problemas de convivência entre fariseus, saduceus, batistas, essênios, nazarenos, cristãos, considerados um grupo a mais no mundo judeu.
São judeus, mas com algo diferente, como podemos ver em Lucas, quando retrata as primeiras comunidades cristãs: "Os cristãos eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações... Diariamente freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão" ((cf. At 2,42-47).
A partir deste texto, podemos assim caracterizar a vida da comunidade:
1 - para as orações normais freqüentavam o Templo de Jerusalém e, noutros lugares, a sinagoga. Eram judeus piedosos, como Jesus o tinha sido.
2 - na vida comum era fundamental a partilha do pão. Os irmãos não aceitam que um passe fome. Organizam coletas para distribui-las aos necessitados.
3 - reuniam-se para escutar as Escrituras explicadas pelos apóstolos e para a oração. O texto bíblico passa a ser entendido conforme a pessoa e a mensagem de Jesus.
4 - há uma outra reunião, a mais especial desse novo grupo e que marca sua identidade religiosa: a reunião para "partir o pão", para a fração do pão, a eucaristia. Com toda a intimidade e piedade, reunidos em casas, renovava-se a ceia de Jesus: "tomai e comei, isto é o meu corpo". Fazendo isso em memória do Senhor, os discípulos sentiam-no presente e se fortaleciam ainda mais para a missão.
Concluindo, eram judeus e cristãos fervorosos.
A organização da Igreja palestinense
Devido ao aumento do número, à formação de grupos, pouco a pouco se estabeleceu uma constituição para a comunidade. As comunidades palestinenses, as mais antigas, tinham esta organização: os apóstolos, que gozam da máxima autoridade: são testemunhas da ressurreição, pregadores, santificadores, organizadores. Pedro é seu chefe, tendo ao lado Tiago e João. O grupo dos "Sete", os diáconos, que se reserva a assistência aos pobres, mas também prega e batiza. Para terem mais tempo para a oração e para o anúncio da Palavra, os apóstolos criam esse grupo, impondo as mãos sobre sete homens justos (At 6,5-6). Um deles era Estêvão, logo apedrejado em razão de sua fé.
Os presbíteros, que possuem grande autoridade e executam tarefas disciplinares, administrativas e doutrinais. Os profetas que, movidos pelo Espírito, formam uma categoria de carismáticos, com a missão de consolar, exortar, edificar, explicar o dom das línguas. Os evangelistas, com o ofício de pregadores.
Pelo ano 34, um fato extraordinário movimentou a vida da comunidade cristã, marcando definitivamente a história da Igreja: no caminho de Damasco, o fariseu e perseguidor Saulo converte-se à nova fé.
Fonte:
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

Nenhum comentário: