segunda-feira, 25 de junho de 2007

Batismo - Eucaristia - Penitência


Desde os tempos apostólicos, por mandato de Jesus, o batismo e a eucaristia são o sacramento da vida cristã: pelo batismo o ser humano obtém a filiação divina e pela presença, nele, da Trindade, tem início o caminho de santificação e divinização. A eucaristia é o alimento do caminho cristão para Deus e o alimento enquanto se espera o retorno do Senhor: "Vinde, Senhor Jesus!" Com o tempo, surgiu a pergunta: como readmitir na Igreja – e na comunidade – os que foram batizados mas caíram no pecado, especialmente nos tempos de perseguição? A Igreja elabora, então, a disciplina penitencial.
O batismo, sacramento da filiação divina e da iniciação cristã.
Nos tempos apostólicos, o batismo era administrado logo após a profissão de fé: anunciava-se Jesus como Senhor e Salvador e aqueles que se convenciam dessa verdade arrependiam-se de seus pecados e eram batizados (cfr. At 2,41; 8,27). O batismo de crianças é atestado a partir do século II, pois já se supunham famílias cristãs que garantissem a formação do neo-batizado.
Com o tempo, passou a ser maior o interesse pela fé cristã e também percebeu-se que alguns pediam o batismo para alguma vantagem pessoal. A Igreja, para fazer frente a esse desafio, instituiu um tempo mais longo – dois ou três anos – de preparação, denominado Catecumenato. Os catecúmenos – ouvintes – deviam ser instruídos nas verdades da fé.
Aquele que ingressava no catecumenato recebia um padrinho que o acompanhava especialmente para ensinar-lhe o modo de vida cristão. Era esse padrinho que testemunhava perante o bispo se o candidato vivia como cristão, conhecia a doutrina e já podia ser batizado. Os catecúmenos participavam apenas da primeira parte da missa.
Normalmente o batismo era ministrado duas vezes ao ano: na vigília da Páscoa e de Pentecostes. Nos primeiros tempos se batizava em águas correntes (fontes, rios, mares). Depois, nas igrejas se construíram batistérios (pequenas piscinas) onde o batizando era mergulhado. Faziam-se três imersões: ao Pai, ao Filho e a Espírito Santo. Para os doentes bastava uma infusão ou aspersão com água. Se um catecúmeno sofresse o martírio antes do batismo, o batismo de sangue substituía o de água.
Pelo ano 200 já se usavam outras cerimônias que lembram a celebração atual do batismo: imposição do sinal da Cruz, renúncia a Satanás, unção com o óleo, profissão de fé, a veste branca. Esta veste branca, sinal de que a pessoa foi revestida de Cristo, era usada por oito dias.
Como o batismo é o sacramento da regeneração, do perdão dos pecados, alguns catecúmenos, para evitar a vida penitencial, adiavam o batismo, para perto da morte, como fez o imperador Constantino.
A eucaristia, remédio, alimento e esperança
É o sacramento central da Igreja e o mais antigo documento que fala de sua celebração é do ano 54-58: 1Cor 11,23-26 (cfr. Mc 14,22-25; Mt 26,26-28; Lc 22,19-20). É também chamado de Fração do Pão (At 2,42.46; Lc 24,30.34).
Inicialmente era celebrada no sábado à noite, no decorrer de uma ceia, num banquete comum recordando a ceia de Jesus. Devido aos abusos que podiam surgir (comilança, bebedeira – cfr. 1Cor11,20ss) pelo ano 100 foi separada do banquete e transferida para o domingo de manhã, quando normalmente os cristãos se reuniam para a instrução e a oração. Deste modo une-se – como hoje – a celebração da Palavra com a celebração da Ceia. Algumas comunidades conservaram o banquete – ágape – separado da eucaristia, simbolizando a alegria, a fraternidade e o cuidado com os pobres.
A eucaristia era presidida pelo bispo e as outras igrejas e os doentes recebiam dele as ofertas consagradas, levadas pelos presbíteros e diáconos.
A comunhão, que Santo Inácio denomina "remédio de imortalidade" era dada sob as duas espécies, o Pão sendo entregue na palma da mão. Havia também o costume de levar para casa Pão consagrado para o uso diário, para os doentes, idosos e prisioneiros.
O Oriente conservou o costume de celebrar a eucaristia apenas aos domingos (dia da ressurreição) e o Ocidente, já pelo século III a celebrava diariamente.
Se no início a Ceia era celebrada em lugares especiais de casas de família, pelo ano 200 já se atesta a construção de verdadeiros e próprios locais de culto – igrejas – preferentemente perto de cemitérios, sobre túmulos de mártires, simbolizando a união de fé entre os santos e os vivos. No aniversários dos mártires celebrava-se a eucaristia sobre seus túmulos.
Não havia um texto fixo para a celebração, mas orientações a partir dos quais o presidente compunha as orações, escolhia salmos e leituras. A primeira Oração eucarística cujo texto possuímos foi-nos transmitida pela Tradição Apostólica de Hipólito (+ 235) e hoje encontra-se no Missal Romano (Oração Eucarística II).
Após o ano 300, começam a surgir famílias litúrgicas, os ritos, diferentes modos de celebrar o mesmo mistério. A estrutura fundamental permanece a mesma: leituras, oferta de pão e vinho, oração eucarística, comunhão. São dezenas de formas litúrgicas, expressando diferentes preocupações teológicas e tradições doutrinais. O Oriente conservou essa riqueza litúrgica, enquanto que o Ocidente, com a preocupação pela unidade-uniformidade, preferiu a unificação basicamente em dois ritos: o latino e o de São João Crisóstomo, admitindo em Milão o rito ambrosiano e na Índia o malabar.
Segundo um teólogo oriental, I. Zizioulas, a eucaristia expressa todo o mistério da Igreja, podendo ser até sua melhor definição: A Igreja é a eucaristia, pois é a comunhão com a Trindade, com os irmãos, com os santos, com a justiça, com a solidariedade, com a criação, compromisso com a construção do reino, aguardando o Reino que há de vir.
A disciplina penitencial
A Igreja antiga exigia dos fiéis uma verdadeira vida de santidade, pois se sentia comunhão de santos. A graça batismal não podia ser violada pelo pecado, havendo grande severidade para com os pecadores.
Eram dois os problemas: a) a Igreja pode readmitir pecadores? b) a Igreja pode repetir a absolvição? Quanto ao primeiro caso, sim, pois recebeu esse poder de Cristo. Quanto à repetição da penitência, a controvérsia foi muito grande e dolorosa.
Algumas igrejas achavam que os réus de pecados graves (idolatria, assassinato, apostasia, adultério) não podia ser perdoados pela Igreja, e assim agiam. Outras pensavam que a Igreja podia conceder o perdão apenas uma vez. Era a tendência do rigor, de manter a visibilidade de uma Igreja somente santa. Após muita controvérsia, prevalecerá a doutrina dos bispos, segundo a qual a Igreja é uma mãe que acolhe em seu seio todos os filhos.
Esse tema da disciplina será apresentado em outra ocasião, pois envolve toda a prática da confissão comunitária ou individual.
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

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