segunda-feira, 25 de junho de 2007

Batismo - Eucaristia - Penitência


Desde os tempos apostólicos, por mandato de Jesus, o batismo e a eucaristia são o sacramento da vida cristã: pelo batismo o ser humano obtém a filiação divina e pela presença, nele, da Trindade, tem início o caminho de santificação e divinização. A eucaristia é o alimento do caminho cristão para Deus e o alimento enquanto se espera o retorno do Senhor: "Vinde, Senhor Jesus!" Com o tempo, surgiu a pergunta: como readmitir na Igreja – e na comunidade – os que foram batizados mas caíram no pecado, especialmente nos tempos de perseguição? A Igreja elabora, então, a disciplina penitencial.
O batismo, sacramento da filiação divina e da iniciação cristã.
Nos tempos apostólicos, o batismo era administrado logo após a profissão de fé: anunciava-se Jesus como Senhor e Salvador e aqueles que se convenciam dessa verdade arrependiam-se de seus pecados e eram batizados (cfr. At 2,41; 8,27). O batismo de crianças é atestado a partir do século II, pois já se supunham famílias cristãs que garantissem a formação do neo-batizado.
Com o tempo, passou a ser maior o interesse pela fé cristã e também percebeu-se que alguns pediam o batismo para alguma vantagem pessoal. A Igreja, para fazer frente a esse desafio, instituiu um tempo mais longo – dois ou três anos – de preparação, denominado Catecumenato. Os catecúmenos – ouvintes – deviam ser instruídos nas verdades da fé.
Aquele que ingressava no catecumenato recebia um padrinho que o acompanhava especialmente para ensinar-lhe o modo de vida cristão. Era esse padrinho que testemunhava perante o bispo se o candidato vivia como cristão, conhecia a doutrina e já podia ser batizado. Os catecúmenos participavam apenas da primeira parte da missa.
Normalmente o batismo era ministrado duas vezes ao ano: na vigília da Páscoa e de Pentecostes. Nos primeiros tempos se batizava em águas correntes (fontes, rios, mares). Depois, nas igrejas se construíram batistérios (pequenas piscinas) onde o batizando era mergulhado. Faziam-se três imersões: ao Pai, ao Filho e a Espírito Santo. Para os doentes bastava uma infusão ou aspersão com água. Se um catecúmeno sofresse o martírio antes do batismo, o batismo de sangue substituía o de água.
Pelo ano 200 já se usavam outras cerimônias que lembram a celebração atual do batismo: imposição do sinal da Cruz, renúncia a Satanás, unção com o óleo, profissão de fé, a veste branca. Esta veste branca, sinal de que a pessoa foi revestida de Cristo, era usada por oito dias.
Como o batismo é o sacramento da regeneração, do perdão dos pecados, alguns catecúmenos, para evitar a vida penitencial, adiavam o batismo, para perto da morte, como fez o imperador Constantino.
A eucaristia, remédio, alimento e esperança
É o sacramento central da Igreja e o mais antigo documento que fala de sua celebração é do ano 54-58: 1Cor 11,23-26 (cfr. Mc 14,22-25; Mt 26,26-28; Lc 22,19-20). É também chamado de Fração do Pão (At 2,42.46; Lc 24,30.34).
Inicialmente era celebrada no sábado à noite, no decorrer de uma ceia, num banquete comum recordando a ceia de Jesus. Devido aos abusos que podiam surgir (comilança, bebedeira – cfr. 1Cor11,20ss) pelo ano 100 foi separada do banquete e transferida para o domingo de manhã, quando normalmente os cristãos se reuniam para a instrução e a oração. Deste modo une-se – como hoje – a celebração da Palavra com a celebração da Ceia. Algumas comunidades conservaram o banquete – ágape – separado da eucaristia, simbolizando a alegria, a fraternidade e o cuidado com os pobres.
A eucaristia era presidida pelo bispo e as outras igrejas e os doentes recebiam dele as ofertas consagradas, levadas pelos presbíteros e diáconos.
A comunhão, que Santo Inácio denomina "remédio de imortalidade" era dada sob as duas espécies, o Pão sendo entregue na palma da mão. Havia também o costume de levar para casa Pão consagrado para o uso diário, para os doentes, idosos e prisioneiros.
O Oriente conservou o costume de celebrar a eucaristia apenas aos domingos (dia da ressurreição) e o Ocidente, já pelo século III a celebrava diariamente.
Se no início a Ceia era celebrada em lugares especiais de casas de família, pelo ano 200 já se atesta a construção de verdadeiros e próprios locais de culto – igrejas – preferentemente perto de cemitérios, sobre túmulos de mártires, simbolizando a união de fé entre os santos e os vivos. No aniversários dos mártires celebrava-se a eucaristia sobre seus túmulos.
Não havia um texto fixo para a celebração, mas orientações a partir dos quais o presidente compunha as orações, escolhia salmos e leituras. A primeira Oração eucarística cujo texto possuímos foi-nos transmitida pela Tradição Apostólica de Hipólito (+ 235) e hoje encontra-se no Missal Romano (Oração Eucarística II).
Após o ano 300, começam a surgir famílias litúrgicas, os ritos, diferentes modos de celebrar o mesmo mistério. A estrutura fundamental permanece a mesma: leituras, oferta de pão e vinho, oração eucarística, comunhão. São dezenas de formas litúrgicas, expressando diferentes preocupações teológicas e tradições doutrinais. O Oriente conservou essa riqueza litúrgica, enquanto que o Ocidente, com a preocupação pela unidade-uniformidade, preferiu a unificação basicamente em dois ritos: o latino e o de São João Crisóstomo, admitindo em Milão o rito ambrosiano e na Índia o malabar.
Segundo um teólogo oriental, I. Zizioulas, a eucaristia expressa todo o mistério da Igreja, podendo ser até sua melhor definição: A Igreja é a eucaristia, pois é a comunhão com a Trindade, com os irmãos, com os santos, com a justiça, com a solidariedade, com a criação, compromisso com a construção do reino, aguardando o Reino que há de vir.
A disciplina penitencial
A Igreja antiga exigia dos fiéis uma verdadeira vida de santidade, pois se sentia comunhão de santos. A graça batismal não podia ser violada pelo pecado, havendo grande severidade para com os pecadores.
Eram dois os problemas: a) a Igreja pode readmitir pecadores? b) a Igreja pode repetir a absolvição? Quanto ao primeiro caso, sim, pois recebeu esse poder de Cristo. Quanto à repetição da penitência, a controvérsia foi muito grande e dolorosa.
Algumas igrejas achavam que os réus de pecados graves (idolatria, assassinato, apostasia, adultério) não podia ser perdoados pela Igreja, e assim agiam. Outras pensavam que a Igreja podia conceder o perdão apenas uma vez. Era a tendência do rigor, de manter a visibilidade de uma Igreja somente santa. Após muita controvérsia, prevalecerá a doutrina dos bispos, segundo a qual a Igreja é uma mãe que acolhe em seu seio todos os filhos.
Esse tema da disciplina será apresentado em outra ocasião, pois envolve toda a prática da confissão comunitária ou individual.
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

O Anúncio e a Defesa da Fé Cristã: Os Escritores

Os primeiros livros usados pelos cristãos na liturgia e na formação da fé foram, evidentemente, os escritos no Antigo Testamento e depois as Cartas de Paulo, Pedro, Tiago, Judas, João, os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas, João, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse.
Para a edificação e fortalecimento das comunidades, era costume narrar-se o martírio de cristãos. Depois esses "Atos de Mártires" eram enviados às outras igrejas, que se entusiasmavam e fortaleciam com sua leitura. Escreveram-se também outros livros que a Igreja não aceitou como fiel expressão da fé cristã e recebem o nome de apócrifos, não revelados, não canônicos. Entre esses citamos o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro, a Infância de Jesus, a Vida de Maria, o Testamento dos XII Patriarcas, a Ascensão de Moisés.
A Igreja manteve sempre muita vigilância sobre a literatura religiosa, a fim de que conservasse íntegra a unidade da fé entre as comunidades e diante do mundo. O entusiasmo religioso, o fervor dos convertidos sempre correu o perigo de resvalar para a heresia e a fantasia.
Escritos sobre a vida das comunidades
A palavra escrita, anúncio e defesa da fé cristã.
Após o Novo Testamento, os escritos cristãos mais antigos são cartas que serviam de estímulo e instrução para as comunidades. Falam da salvação em Cristo, exortam a que todos esperem com confiança a volta do Senhor, pedem a união em torno dos pastores e que não se deixem seduzir pelas heresias. Estes primeiros escritores são chamados de Pais-Padres Apostólicos: Barnabé, Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Pápias de Hierápolis e a Carta a Diogneto, esta uma bela descrição dos cristãos: eles vivem no mundo, participam de tudo, se parecem com todos, mas são diferentes, pois um outro espírito os anima.
Há um outro conjunto de escritos dos séculos II e III e que versam sobre a vida das comunidades cristãs. São muito importantes porque retratam a vida litúrgica, a organização e os costumes das comunidades.
Um dos mais famosos é a Didaqué – Doutrina dos Apóstolos, que alguns autores pensam ter sido escrito ainda nos tempos apostólicos. Este livro, uma espécie de catecismo, encerra prescrições litúrgicas para o batismo, preceitos sobre o jejum, a oração e o domingo, determinações para as autoridades na Igreja e a doutrina dos dois caminhos.
Outro livro é a Tradição Apostólica de Hipólito, redigida em Roma pelo ano de 215. Transmite-nos informações sobre a antiga liturgia romana e é o primeiro escrito a descrever minuciosamente e registrar orações litúrgicas. Também trata dos ofícios e ministérios na comunidade, como eleição e sagração de bispos e ordenação de presbíteros e diáconos.
Ataques intelectuais ao cristianismo
Os cristãos não tiveram que enfrentar somente a crueldade da perseguição que gerava mártires. O paganismo também desembainhou as armas intelectuais, atacando os fundamentos da fé cristã. São escritores pagãos que agem em defesa da religião imperial romana, da antiga filosofia, pensando estar defendendo a própria unidade do Império.
O mais conhecido destes escritores é Celso, que conhecia o Antigo Testamento e os Evangelhos. Pelo ano 178 escreveu o Discurso Verdadeiro, onde ataca as doutrinas cristãs da encarnação e da redenção e apresenta a vida de Jesus como fruto de enganos e fábulas.
Outro destes polemistas foi Porfírio que, talvez, tenha sido catecúmeno. Pelo ano 270 publicou o Contra os cristãos e Filosofia derivada dos oráculos, oferecendo aos pagãos uma doutrina que afirmava ser de revelação divina.
O imperador-filósofo Marco Aurélio buscou desmoralizar os cristãos, especialmente acusando-os de odiarem a raça humana pelo seu despreendimento em sofrer o martírio. Muitos desses intelectuais procuravam demonstrar que os cristãos eram gente sem eira nem beira, que a fé cristã era coisa para gente fracassada ou desocupada.
Muito sucesso, pelo ano 170, fez a obra de Luciano de Samósata, A morte de Peregrino, história de um filósofo necromante e errante, ridicularizando nos cristãos o amor fraterno e o desprezo pela morte; Luciano quer retratar os cristãos como gente ignorante vítima de embusteiros. Estas obras e outras se constituíram numa forte tentativa de menosprezar a nova fé e evitar a adesão de novos membros.
A resposta dos intelectuais cristãos: as Apologias

As obras anti-cristãs desafiaram a Igreja a elaborar um outro tipo de literatura, dando-lhe aspecto científico, em forma apologética, isto é, de defesa frente aos ataques de intelectuais pagãos. Um grande número de pessoas com sólida formação intelectual entrara na Igreja e sentiu a necessidade do confronto com a filosofia pagã. A fé não nega a inteligência. Pelo contrário, a confirma.
Nascem as Apologias, mediante as quais o cristianismo abriu-se para o mundo, saindo dos pequenos grupos em que se isolava. Os apologistas não só expõem a fé cristã: vão além, demonstrando que a nova religião é o coroamento das mais altas aspirações do ser humano. Em outras palavras, o cristianismo é a realização plena e definitiva de todo o processo religioso e intelectual do ser humano.
Alguns deles: Quadrato, Aristão, Milcíades, Apolinário, Melitão de Sardes, Aristides.
O mais conhecido dos apologistas é São Justino (+ 165), o filósofo mártir. Nascido de família pagã, desde a juventude se inquietava buscando a verdade na filosofia. Num dia, em Éfeso, um ancião o convenceu de que a filosofia era insuficiente para chegar à doutrina da essência e da imortalidade da alma. Justino interessou-se pelo estudo dos Profetas do Antigo Testamento, por eles chegando ao cristianismo. Através da oração ingressou no caminho para Deus e para Jesus Cristo.
Tornou-se um mestre itinerante, andando por toda a parte até chegar a Roma, onde fundou uma escola. Justino expunha a fé cristã perto do palácio imperial, desafiando o próprio imperador para um confronto. Escreve duas Apologias. Impressionante: São Justino dirige estes escritos de defesa do cristianismo ao imperador Antonino Pio e ao Senado romano. Não tem medo. Rejeita as acusações dirigidas aos cristãos e expõe a doutrina da religião cristã. Escreve também o Diálogo com Trifão, uma conversa de dois dias entre ele e um sábio judeu.
Justino lança uma ponte entre a filosofia antiga e o cristianismo com a teoria das "sementes da verdade": cada ser humano possui em sua inteligência uma semente da Verdade, de modo que tudo na história é orientado para a chegada e a aceitação de Cristo, a verdadeira sabedoria.
Justino pagou com o sangue sua busca da Verdade e a defesa da fé. O imperador condenou-o à morte.
A fé diante de um novo mundo
O cristianismo penetra em todos os ambiente do Império e tem de enfrentar novos desafios além do direito de existir: a defesa frente ao ataque intelectual pagão e a garantia de sua unidade interna diante das heresias que começam a surgir, a mais poderosa de todos sendo o gnosticismo, que queria reduzir a fé cristão a um conhecimento intelectual. As Apologias defendem a fé e surge a necessidade de elaborar uma teologia.
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

domingo, 17 de junho de 2007

HISTÓRIA DA IGREJA - Século I - Cont

Sereis Perseguidos por Causa de Mim - Igreja e Império
Desde o início, seguindo as pegadas do Mestre, o cristianismo passou pela provação e perseguição. Num primeiro momento por parte dos judeus, que nele viam uma traição à pátria e à Lei de Moisés.
Mas, a primeira verdadeira e grande perseguição foi a de Nero, limitada à capital, Roma. O motivo não foi a fé professada, mas a acusação caluniosa que Nero fez de que os cristãos tinham posto fogo à cidade. Passaram por toda espécie de sofrimento: queimados para iluminar a noite, torturados, comidos pelas feras. O ódio popular voltara-se contra eles e também contra judeus. No ano 67, em Roma, o apóstolo Paulo é decapitado e o apóstolo Pedro crucificado de cabeça para baixo.
Perseguições locais e clima de insegurança.
Depois do ano 70, mais vezes houve perseguições, mas sempre em nível local, pois não havia uma legislação proibindo ser cristão. Eram vítimas da aversão popular, que os acusava de odiarem o gênero humano, não amarem a vida, comerem crianças, realizarem sacrifícios rituais. A situação dos cristãos era caracterizada pela insegurança: podiam existir, mas se fossem acusados de perturbar a ordem pública, as autoridades locais se colocavam contra eles. Durante as perseguições alguns cristãos se refugiavam nas Catacumbas, locais próprios para sepultamentos.
Domiciano os perseguiu por se recusarem a prestar culto ao imperador: ele queria ser adorado como "Senhor e Deus". O imperador Trajano (98-117) criou uma lei sob a qual os cristãos viveram inseguros durante quase 200 anos: "os cristãos não devem ser procurados, mas se forem denunciados e sua culpa comprovada, devem ser punidos". Isso quer dizer: não é crime ser cristão, mas se for denunciado, passa a ser criminoso. As denúncias podiam surgir por inveja, cobiça de patrimônio, vingança pessoal e, o mais terrível, por ocasião das grandes festas, quando se necessitavam de mais vítimas para os espetáculos circenses.
Houve uma grande perseguição sob Marco Aurélio, o imperador filósofo (161-180): o Império balançava devido à peste, carestia e a ameaça dos bárbaros nas fronteiras. O povo atribui estes desastres aos cristãos e o agride e mata.
Entre 211-235 houve 30 anos de calma, sem perseguições.
Substancialmente, até a metade do 3o século, apesar do ódio das massas populares, os cristãos puderam se multiplicar e ocupar um posto digno na sociedade romana. A nova religião se colocava como proposta melhor para os que buscavam uma verdadeira religiosidade, fugindo à idolatria, ao culto imperial e ao formalismo do culto pagão.
Os cristãos eram invejados, suspeitos de ateísmo e impiedade, causa das calamidades naturais. Apesar disso, com exceção daquela de Nero, nenhuma perseguição assumiu proporções de massa.
O ataque final do Império e seu fracasso
As duas perseguições verdadeiramente graves foram as de Décio (249-251) e Diocleciano (284-305).
A de Décio foi breve, mas muito violenta. Ele acreditava salvar o Império retornando à antiga religião pagã. Usou de todos os meios: cárcere, exílio, confisco dos bens, tortura, morte. Muitos apostataram, oferecendo sacrifícios aos deuses para receber o certificado e livrar-se da prisão ou morte.
Valeriano (253-260) exigiu, sob pena de exílio, que bispos, presbíteros e diáconos sacrificassem aos deuses. Sob pena de morte foram proibidas as assembléias de culto. Os bispos deviam ser imediatamente executados.
No dia 23 de fevereiro do ano de 303 os cristãos levaram um susto. Há 40 anos viviam em paz, os mais jovens não sabiam o que era a perseguição e não se estava preparado para o sofrimento. Neste dia saiu o primeiro decreto de Diocleciano contra o cristianismo: proibição de culto, confisco dos Livros sagrados, destruição das igrejas e exclusão de cristãos dos cargos públicos. Até janeiro do ano seguinte, mais três decretos ordenavam prender todos os chefes das igrejas, libertação dos prisioneiros que sacrificassem e, por último, obrigação de todos os cristãos de oferecerem sacrifícios aos ídolos, caso contrário sofreriam o exílio, a tortura, a prisão, a morte. Esta verdadeira perseguição foi também a última. Diocleciano estava convencido de dever restaurar a antiga religião, eliminando seus inimigos para garantir a ordem do Império. Foi a mais longa e violenta das perseguições e o último desafio ao cristianismo. No Egito se executavam de 10 a 100 cristãos ao dia.
Muitos cristãos cederam ao medo e apostaram. Muitos outros morreram gloriosamente por Cristo, especialmente na Ásia e no Egito, onde foi maior a crueldade.
A perseguição mostrou-se um fracasso estratégico e pouco a pouco arrefeceu. Em 311 Galério permitiu a prática religiosa cristã. Em 313, o imperador Constantino concedeu liberdade aos cristãos que, apesar da insegurança e perseguições, tinham crescido e se constituíam na melhor força do Império. O segredo dessa força foi dado pelo heroísmo de quase 100 mil mártires.
Histórias de martírio
As autoridades ficavam impressionadas com a coragem e a simplicidade dos cristãos entregues aos tribunais. São crianças de 11 anos, como a belíssima romana Inês. Em pleno circo, arrancam-lhe as vestes para rirem de sua nudez e Deus faz o milagre de os cabelos crescerem e Santa Inês é decapitada. É o bispo Policarpo respondendo ao juiz que pede que blasfeme: "Eu sirvo a Cristo há 86 anos e ele nunca me fez mal; como posso blasfemar contra o rei que me salvou?" É o jovem Tarcísio que leva a Comunhão aos doentes, escondendo o Pão embaixo da camisa e seus colegas, para descobrirem o que é acabam por matá-lo a pedradas. É a mãe que manda recados a Deus através do filho que será martirizado. Santo Inácio de Antioquia, antes de ser despedaçado na boca de leões e tigres, dizia: "Triturado por leões, serei como o trigo que é triturado para com ele se fazer o pão da eucaristia". É o filósofo Justino (séc. II) que, convertido, vai ao palácio do imperador Marco Aurélio defender os cristãos e a fé cristã e acaba decapitado. É o jovem soldado Sebastião, da guarda imperial, que pede o batismo e depois é condenado a morrer a frechadas, amarrado a uma árvore. Os cristãos recolhem o corpo e cuidam bem, pois estava vivo. Sebastião se retraiu? Não! Foi ser catequista, sendo pouco depois martirizado. Quanta simplicidade nesses santos que nos ensinam que não existe fé sem heroísmo!
A glória da Igreja são seus mártires, homens, mulheres, jovens e crianças que a tal ponto amaram a Jesus que não lhes importou sofrer ou morrer. A perseguição que o Império romano moveu aos cristãos durante 300 anos não lhes diminuiu o número. Tertuliano, grande teólogo, dizia: "O sangue dos cristãos é semente de novos cristãos".
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor


Todos os anos, por volta do mês de junho, sempre numa quinta-feira, dia em que Cristo instituiu a Eucaristia, nós cristãos católicos, celebramos a festa do Santíssimo Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, é a festa do Corpo de Deus! A Eucaristia, é para nós cristãos, o centro de nossa fé. Cristo ressuscitado se faz realmente presente nas espécies do pão e do vinho e, se dá em alimento para nos fortalecer em nossa peregrinação rumo à Pátria Celeste . Jesus Cristo, na última Ceia, sabendo que ia ser entregue às autoridades de sua época, quis ficar conosco de uma maneira misteriosa, tornando-se presente nos sinais do pão e do vinho: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós...” (1 Cor 11, 24). “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue...” (1 Cor 11, 25). Que maravilha! Que sublime Sacramento! Que amor profundo o Filho de Deus tem por nós! “Eis que estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo”. (Mt 28, 20). E, é verdade, Ele está no meio de nós. Ele se interessa por nós. Ele quer a nossa felicidade aqui na terra e a nossa salvação. Como nos lembra um belíssimo hino litúrgico: “No Calvário se escondia tua divindade, mas na Eucaristia se esconde tua humanidade. Cremos em ambas e pedimos como o bom ladrão, estarmos lá no céu, um dia adorando a Deus face a face”. A festa do Corpo de Deus é uma proclamação de fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Diversos são os milagres que atestam a presença de Cristo na Eucaristia. Chamamos atenção para um deles, que se deu por volta do ano 700, na cidade italiana de Lanciano. Nesta cidade, entre os monges de São Basílio, havia um que vacilava em sua fé na presença real de Cristo nas espécies do pão e do vinho. Certa vez, quando celebrava a Missa, proferindo as palavras da consagração, ele viu a hóstia converter-se em carne viva e o vinho em sangue vivo. Aturdido pelo milagre que acabara de ocorrer e cheio de alegria, chamou as pessoas presentes e disse: “Vinde, irmãos, e admirai o nosso Deus que se aproximou de nós. Eis aqui a Carne e o Sangue do nosso Cristo muito amado!” As relíquias foram inicialmente guardadas num tabernáculo de marfim. A partir de 1713 até hoje, a Carne está conservada numa custódia de prata e o Sangue num cálice de cristal. Junto ao reconhecimento eclesiástico, uniu-se o pronunciamento da ciência por meio de minuciosas provas laboratoriais encaminhadas ao Vaticano. Em 1970, nova pesquisa foi realizada por dois médicos de renome internacional e idoneidade moral indiscutíveis: Dr. Linoli e Prof. Ruggero Bertelli. A ciência se pronunciou afirmando que a Carne é músculo cardíaco e o Sangue é do tipo AB e são de pessoa humana. Esses dois cientistas afirmaram: “É como o sangue de pessoa viva, como se tivesse sido colhido, de um ser vivo na mesma data”. “A conservação da carne e a conservação do sangue são um fenômeno extraordinário”. Para nós, cristãos católicos, este fenômeno atestado pela ciência é o “Milagre Eucarístico de Lanciano”. Em 1264, o Papa Urbano IV, proclamou a festa de “Corpus Christi” com celebração especial e procissão festiva. Devemos continuar este costume de acompanhar a procissão do Corpo de Deus, como demonstração pública da nossa fé na presença de Cristo no Santíssimo Sacramento do Altar. Tão sublime Sacramento, adoremos neste altar!

terça-feira, 12 de junho de 2007

HISTÓRIA DA IGREJA - Século I - Cont

A Expansão e a Organização do Cristianismo
Evidentemente que a Igreja antiga era uma Igreja missionária, pois recebera uma ordem de Cristo neste sentido (Mt 28,19: Ide!). Os cristãos têm consciência de que devem testemunhar e desempenhar uma missão no mundo. Mas não se pode falar de atividade missionária geral e contínua organizada pela Igreja. No judaísmo não havia uma tradição missionária, pois basicamente se permanecia restrito ao povo judeu. Jesus também limita sua pregação aos discípulos e aos judeus (cf. Mt 10,5), apesar de algum contato com os pagãos. Paulo é um caso a parte: por temperamento quer andar até os confins da terra, isto é, em todo o Império. Mas, num primeiro momento, também ele permaneceu junto aos judeus.
São Lourenço distribuindo pães
A propagação do Evangelho e a semeadura de igrejas não foi fruto de um movimento entusiástico, mas a conseqüência de duas pedagogias missionárias: o anúncio e o testemunho, o "contágio". O anúncio direto foi obra dos apóstolos, de seus colaboradores, sucessores, do fervor dos recém-convertidos que procuravam convencer parentes e amigos. O "contágio" aconteceu pela admiração provocada pelas pequenas comunidades e grupos cristãos no ambiente em que viviam: a caridade, a alegria, a fraternidade, o cuidado pelos prisioneiros, a partilha causavam admiração, curiosidade e acolhida pela nova mensagem. Não se pode também esquecer que a religiosidade romana vivia numa grande crise por sua artificialidade, multiplicação dos deuses, culto dos imperadores e a simplicidade e pureza da fé cristã despertavam o interesse das pessoas que buscavam uma experiência religiosa mais séria e pessoal.
Quem eram os cristãos?
Os inimigos da Igreja, como o escritor Celso, diziam que o Cristianismo era a religião dos cardadores, sapateiros, lavadeiras, analfabetos, gente sem eira nem beira. Isso não corresponde à realidade. É verdade que muitos cristãos eram gente pobre e simples, os doentes e sofredores curados e alimentados por Jesus. Mas também há gente rica ou da classe média, como Pedro, Mateus, Zaqueu, Lázaro, o funcionário da rainha da Etiópia, o centurião Cornélio, Lídia, comerciante de púrpura, mulheres nobres que acompanham Paulo, Priscila e Áquila, para citar alguns do período neotestamentário.
Antes do ano 100, há cristãos na alta nobreza romana e na própria família imperial, como Flávia Domitila, mulher de Domiciano. O Pastor de Hermas, pelo ano 100 critica os cristãos romanos por causa de sua preocupação com os negócios e muito luxo. Um século depois, Tertuliano fala de senadores cristãos. Pelo III século, a maioria da comunidade cristã de Cartago não pertencia à classe inferior.
Podemos afirmar que, pouco a pouco, a mensagem do Evangelho atinge a todas as classes sociais que, por sua vez, procuram "contagiar" seus parentes e amigos.
O crescimento da Igreja até o século IV
É justo afirmar que o período apostólico pode ser chamado de "missionário", o que não vale para os séculos seguintes. Parece que o mandado missionário de Cristo foi interpretado como dirigido somente aos Doze e a Paulo. Após o ano 100, os bispos não sentem que sua sucessão apostólica inclua a missão. Acham que o mandato missionário de Mateus foi realizado: há cristãos nos confins da terra (os limites do Império), deste modo estando cumprida ordem de Jesus. Chama atenção o fato de que sejam pouquíssimas as orações pela conversão dos pagãos ou para a instauração de um império cristão. Após o ano 100, temos pouquíssimos missionários no sentido propriamente dito. Podemos citar Gregório o Taumaturgo para missões no Ponto e na Capadócia, Martinho de Tours para a Gália, Gregório o Iluminador para a Armênia.
A difusão do Evangelho foi condicionada e facilitada pela rede rodoviária do Império e dependeu muito do conhecimento do grego.
Como naquele tempo não havia estatísticas, um critério para o número aproximativo dos cristãos é a população do Império romano: 50/55 milhões no I século, 75/80 no II, 50 no final do III. O número dos cristãos pode ser assim estimado: 3 milhões pelo ano 250, 6/7 milhões pelo ano 300, a grande maioria no Oriente. Nesse ano, eram 800 as comunidades locais com bispo (não pensar nas dioceses de hoje, pois naquele tempo cada igreja, por menor que fosse, tinha seu bispo).
Geograficamente, seria essa a distribuição segundo as regiões do Império:
os cristãos eram quase a metade nas províncias de Edessa da Síria, Armênia, província da Ásia e Chipre;
eram forte minoria na província da África, Espanha e Gália meridional, Acaia, Antioquia, Alexandria, Roma;
eram pouquíssimos na Palestina, Fenícia, Arábia, províncias danubianas, africanas ocidentais e européias centrais;
eram pouquíssimos ou ausentes nas regiões do Mar Negro, Suíça, Alemanha, Gália do norte, Bélgica...
Fora do Império, desde o II século havia cristãos na Pérsia, Mesopotâmia e Índia.
A organização da Igreja
Se no I século o governo da Igreja era colegial – apóstolos, doutores, missionários, bispos – pelo ano 110 em algumas regiões começa a predominar o episcopado monárquico, isto é, surge a distinção entre presbíteros e bispos, passando estes a governar a igreja local. Perto do ano 220, essa será a forma normal de governo eclesial. Uma das causas foi a sucessão apostólica: os apóstolos, que eram bispos itinerantes, quando residiam numa localidade, eram chefes do presbitério local. O mesmo passa a suceder com seus colaboradores, como Timóteo e Tito, Inácio em Antioquia, Policarpo em Esmirna, Clemente em Roma. Seu raio de atuação é bastante limitado: uma região, uma zona particular. Ao mesmo tempo são bispos residenciais e bispos missionários.
Surgindo heresias, como o gnosticismo, ganha importância o conceito de sucessão apostólica, que esclarecia melhor onde estava a verdadeira fé. Os hereges criam doutrinas, os bispos não: eles transmitem o que receberam dos apóstolos, não inventam nada. Neles há a garantia da sucessão da doutrina, a sucessão apostólica. Quem está com o bispo, está com a doutrina dos Apóstolos.
O bispo é o centro de unidade, representa Deus, preside a catequese e os sacramentos e a disciplina. Os presbíteros ajudam e substituem o bispo. Os diáconos estão a serviço do bispo, ajudando-o na liturgia, tinham função administrativa e cuidavam da assistência social dos pobres. Inicialmente houve também diaconisas, com verdadeira ordenação, pertencendo à hierarquia. No II século ainda existiam os carismáticos, chamados de profetas, que ensinam nas assembléias litúrgicas e ajudam os diáconos na atividade caritativa. Pelo surgimento de muitos falsos profetas, tendem a desaparecer.
Pode-se dizer que pelo ano 200, a Igreja tinha formulado o sistema de governo e pastoreio que, em linhas gerais, é semelhante ao de hoje.
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

HISTÓRIA DA IGREJA - Século I - Cont

O Distanciamento entre Judeus e Cristãos
Pe. José Artulino Besen
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Há uma pergunta que sempre deve ser feita: por que, com o tempo, os judeus e os cristãos se separaram tanto, a ponto de no século XX o nazismo alemão, num país cristão, decretar sua extinção, assassinando seis milhões? Por que usamos palavras como "judiar", "judiaria" para indicar ações maldosas, quando sabemos que nossa fé tem origem no povo judeu, que Jesus, Maria, os apóstolos eram judeus de sangue e de fé?
Já escrevemos que os primeiros cristãos não se entendiam como uma comunidade religiosa fora do judaísmo. Procuravam ser judeus e cristãos, freqüentando o templo e seguindo os ritos religiosos, especialmente a circuncisão. Aos olhos dos judeus, os cristãos eram um grupo à parte, quase que uma seita. Já os cristãos se pensavam como os verdadeiros judeus, herdeiros das promessas do Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
O problema vai aparecer e se acentuar à medida que pagãos aceitam a fé cristã. Surge uma pergunta que no início não se fazia: os cristãos convertidos do paganismo devem ser circuncidados, entrar a fazer parte do povo judeu?
A crise abalou a comunidade de Antioquia, cuja maioria era originária do paganismo, quando alguns cristãos provenientes da Palestina passaram a afirmar a necessidade da judaização dos cristãos: após o batismo, deveriam ser circuncidados e obedecer às outras prescrições do Antigo Testamento. Para reencontrar paz, os irmãos enviaram Paulo e Barnabé a Jerusalém, para submeter o caso à comunidade mãe.
O Concílio de Jerusalém
Era o ano 49/50, quando se reuniram os apóstolos com os anciãos no assim chamado Concílio dos Apóstolos em Jerusalém (At 15,4-35), para solucionar as dúvidas a respeito da relação judaísmo-cristianismo. Foi o último encontro dos apóstolos na cidade mãe. Paulo defendeu a liberdade dos cristãos diante das leis judaicas. Sua evangelização, livre das obrigações da Lei, foi reconhecida e aprovada por Pedro, Tiago e João, as "colunas da Igreja", que enviaram Paulo para evangelizar os pagãos.
A decisão de não obrigar os pagãos convertidos à circuncisão foi publicada no Decreto dos Apóstolos, com 4 cláusulas que visavam preservar a unidade de todos os discípulos: os pagãos convertidos deveriam evitar participar de banquetes sacrificais aos ídolos, alimentar-se de carne, de sangue e de animais sufocados e abster-se da luxúria.
Estava assim garantida a existência de duas formas legítimas do Cristianismo: a Igreja judeu-cristã e a Igreja pagano-cristã.
Conflito entre Pedro e Paulo

Se em Antioquia era fácil conservar a liberdade cristã frente ao judaísmo, não o era na Palestina, onde os preceitos de Moisés tinham valor de lei pública e desobedecê-los era trair à própria pátria que estava sofrendo sob o jugo romano. Morar em Israel era seguir a Lei. Em Jerusalém, Tiago vive como um judeu observante e justo, amado por todos, todos os dias freqüentando o templo. Pedro é tomado pela dúvida e passa a ter uma atitude ambígua: primeiramente convivia com os pagãos convertidos, mas depois passou a distanciar-se deles, preferindo os judeu-cristãos. Sabendo disso, Paulo o enfrenta, lembrando a decisão tomada em Jerusalém, que garantia a liberdade dos cristãos (Gl 2,11). Com humildade, Pedro aceita a correção.
A situação de Pedro não era fácil: ele era cristão, sim, mas em seu corpo também corria sangue judeu, sua formação era a de um judeu. E naquela hora a pátria passava por momentos difíceis, ameaçada por revoltas e uma nova invasão romana. Neste momento, abandonar a Lei de seu povo parecia a ele e aos judeu-cristãos uma verdadeira traição. Paulo, porém, também judeu, sentia a necessidade de separar os destinos do Cristianismo do destino terreno da Palestina e, mais ainda, salvar a salvação pela fé em Cristo e não pela prática da Lei. Paulo não estava traindo sua origem judaica, mas queria separar a comunidade cristã da comunidade política de Israel.
Termina a Jerusalém terrena
No ano 70, o general romano Tito conquistou Jerusalém e destruiu o templo, o símbolo maior da fé judaica: sem templo não há mais sacrifícios. A comunidade cristã se retirou para Pelas, na Transjordânia, já que não havia mais a realidade do templo, vital tanto para os judeus como para os judeu-cristãos. Nessa situação nova, os judeu-cristãos perdem terreno. Um grupo significativo deles decide permanecer no isolamento e acaba na heresia. Acabam não sendo mais nem judeus nem cristãos.
Livres do contato com o judaísmo, os ideais cristãos tornam-se sempre mais universais.
Vencera a missão de Paulo que não negava a tradição de seu povo, mas não aceitava atrelá-la à fé no Senhor ressuscitado. Não tivesse sido a escolha paulina, a Igreja conheceria os mesmo destino trágico de Israel e poderia desaparecer.
De certo modo, o desaparecimento da Igreja judeu-cristã empobreceu o cristianismo, que passou a beber menos da rica tradição religiosa de Israel.
A separação entre cristãos e judeus
Após esses fatos, a história da Igreja e da Sinagoga se separam e, dolorosamente, vão surgindo incompreensões de parte a parte, gerando o anti-semitismo, que acaba por negar que Jesus e os apóstolos eram judeus. O distanciamento vai também gerar ódio. Em Roma, cristãos são perseguidos após denúncias de judeus e judeus são perseguido pela raiva de cristãos. Para o judeu, ser cristão é ser traidor de Israel e para o cristão, ser judeu é ter participado da morte de Jesus.
Essa separação vai chegar ao ponto de no primeiro Concílio ecumênico, em Nicéia (325) se afirmar que "nós cristãos não queremos ter nada em comum com os judeus".
Hoje, quase 20 séculos depois, cristãos e judeus se redescobrem como irmãos e buscam superar as desconfianças.
Deixando de lado a espiritualidade do Antigo Testamento, durante os séculos seguintes os cristãos vão perder a riqueza da oração bíblica, da intimidade com Deus. O povo judeu era o povo da oração, é o povo autor dos Salmos!
Algumas riquezas do povo judeu que nós perdemos e tentamos recuperar: a relação entre a fé e a vida, entre Deus e a história, a santificação da vida diária, a oração brotada do coração, a dimensão do homem inseparável da comunidade, a compreensão pelos que pensam diferente e muito mais.
Quando Paulo abriu o Evangelho da Graça aos pagãos, não criou uma nova planta, mas enxertou a Igreja na Oliveira de Israel. Judeus e cristãos são filhos do Deus de Abraão.
Fonte:
Seleção "HISTÓRIA DA IGREJA"Publicação no ECCLESIA autorizada pelo autor
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Santo Antônio de Pádua

Santo Antônio de Pádua, Doutor da Igreja, um franciscano chamado de "O Martelo dos Hereges" e o "Trabalhador Maravilhoso" e a "Arte Viva do Covenant".
Ele nasceu Fernando Martin de Bulhom, em 15 de agosto 1195 em Lisboa, Portugal filho de um cavalheiro corte de do Rei Alfonso II, Martinho Bulhões e Maria Teresa Taveira. Em 1212 ele tornou-se um membro regular da Ordem de Santo Agostinho e foi educado em Coimbra em 1220. A chegada das relíquias de cinco mártires franciscanos de Marrocos em 1221 levou Santo Antônio a entrar para a ordem dos franciscanos. Ele foi em uma missão a Marrocos e ao voltar foi designado para atender a Capítulo Geral da Ordem de Assis em 1221. Tronando-se conhecido como um grande pregador com grande zelo e eloquência, Santo Antônio viajou pela Itália pela sua Ordem e assumiu varias posições administrativas.De 1222 a 1224 Santo Antônio pregou contra os Catares, de 1224 a 1227 ele confrontou com os hereges Albigensianos .O Papa Gregório IX , deu a ele ordem para por de lado todas os seus outros deveres, e continuar a sua pregação. Santo Antônio se fixou em Pádua, reformou a cidade, acabou com a prisão de devedores e ajudou os pobres. Em 1231 ele sofreu de exaustão e foi se recuperar em Campossanpietro. No seu retorno a Pádua ele não agüentou e acabou morrendo no convento das "Clarissas Pobres" em Arcella, em 13 de junho de 1231. Santo Antônio foi chamado o "Trabalhador Maravilha" pelos seus muitos milagres. Ele pregava para multidões na chuva e a sua audiência ficava seca a despeito do forte aguaceiro. Ele foi saudado como um traumatologista após ter curado a perna de um homem que tinha sido seccionada e fez outro homem voltar a vida, para testemunhar em uma audiência de assassinato onde um inocente estava sendo considerado culpado. Perto da morte de S. António aparece-lhe o Menino Jesus na cela de Camposampiero.
Santo Antônio é o padroeiro de Pádua, de Lisboa, de Split, de Paderborn, de Hil-desheim, dos casais é um santo popular para encontrar itens perdidos. No Brasil é o santo casamenteiro e é invocado pelas moças solteiras para encontrar um noivo. O "dia dos namorados" no Brasil é celebrado na véspera de sua festa ou seja no dia 12 de junho.
Faleceu no dia 13-06-1231 em Arcella, nos arredores de Pádua. Foi canonizado em 30-05-1232 pelo Papa Gregório IX em Espoleto (Úmbria), Itália.Foi indicado Doutor da Igreja em 16-01-1946 por Pio XII com o título de "Doutor Evangélico".Na arte litúrgica da igreja ele é mostrado como um franciscano e as vezes com o Menino Jesus.O milagre dos peixes:Santo António faz um sermão aos peixes, no rio Marecchia porque os homens de Rimini não o querem ouvir. Ao ver isto eles arrependem-se e dirigem-se para junto do santo, ouvindo o sermão.O milagre do jumento:Um herege não acreditava que Cristo de fato estava presente na Eucaristia. Santo António diz que o jumento, que o homem tinha, era menos teimoso e que seria mais fácil convencê-lo. Ao ver a hóstia o jumento ajoelha-se.Em 1236 fizeram o traslado do corpo do Santo. Foi possível encontrar a língua do Santo perfeitamente rosada no corpo já em decomposição. A língua ficou como relíquia lembrando que aquela língua anunciou a palavra de Deus ao mundo.
O santo casamenteiro:Existe três versões:
1) Entre os Bascos, Santo Antonio é considerado o santo que faz o “matchmaker” ou seja encontra os iguais ou seja santo que casa coisas iguais ou santo “casamenteiro”.Ele seria o santo que fazia o sagrado encontro de duas pessoas ou o santo casamenteiro. De acordo com o costume relatado pelo Rev. Francis X. Weiser publicado em 1.958, as garotas Bascas faziam uma peregrinação no templo de Santo Antonio em Durango, no dia de sua festa, e oravam para ele encontrar para elas, um “bom rapaz”.
Vale dizer que os rapazes bascos faziam a mesma jornada e ficavam do lado de fora do templo até as moças terminarem as suas preces e aí eles as tiravam para dançar. Weiser especula tambem que esta associação entre noivado e casamento é inspirado porque temos varias imagens de Santo Antonio carregando um “bebê ” (Menino Jesus) nos braços.
2)Outra versão, muito contada pelos antigos, diz que uma jovem depois de fazer uma novena à Santo Antônio e não tendo encontrado noivo, zangada, jogou a estátua de Santo Antônio que tinha em seu oratório, pela janela e a mesma caiu na cabeça de um caixeiro-viajante que passava. Este gritou e ela foi correndo ajuda-lo e levou-o para dentro e tratou de seu ferimento. Ele se apaixonou por ela e se casaram.
3)Conta-se que uma donzela não dispunha do dote para casar-se e, confiante, recorreu a Santo Antônio. Das mãos da imagem do Santo teria caído um papel com um recado a um prestamista (pessoa que empresta dinheiro a juros) da cidade, pedindo-lhe que entregasse à moça as moedas de prata correspondentes ao peso do papel. O prestamista obedeceu e pôs o papel num dos pratos da balança, colocando no outros as moedas. Os pratos só se equilibraram quando havia moedas suficiente para pagar o dote."
Sua festa é celebrada no dia 13 de junho.