terça-feira, 5 de junho de 2007

HISTÓRIA DA IGREJA - Século I - Cont


A Missão dos Apóstolos -Pe. José Artulino Besen*


"Os que se haviam dispersado iam por toda parte, anunciando a Palavra de Deus" (At 8,4). A missão cristã não conhece fronteiras nem obstáculos. O Evangelho é proclamado na Judéia, Samaria, Fenícia, em Chipre e Antioquia, tanto para os judeus como para os pagãos. Recebem o batismo o eunuco da rainha da Etiópia, o centurião romano Cornélio.
Antioquia, terceira cidade do império romano, foi a base de partida para a evangelização universal: não só os judeus devem receber a mensagem de Cristo, mas todos. Sua situação geográfica, entroncamento de culturas e comunicações do Oriente mediterrâneo, fez dela e não Jerusalém, o ponto de partida para a missão universal. O que faz um cristão não é a raça, a cultura, os ritos religiosos, mas a aceitação de uma pessoa, Jesus. Barnabé e Paulo foram os fundadores comunidade cristã antioquena. Ali percebeu-se que os discípulos de Jesus, pela sua união, caridade, alegria, eram diferentes dos outros grupos religiosos. E pela primeira vez foram chamados de "cristãos" (At 11,26).
Mas, antes de continuarmos, temos de falar do homem que mudou os destinos do Cristianismo: Saulo, o apóstolo Paulo.
Paulo, o Apóstolo das nações
Paulo era um homem talhado para a missão: judeu da tribo de Benjamim, conhecia as Escrituras, nascido em Tarso, conhecia a cultura grega, cidadão romano, conhecia o latim. Fariseu, odiava os cristãos, que enxergava como traidores do povo judeu e da Lei, participou do apedrejamento de Estêvão e tinha cartas autorizando prender cristãos.
Indo para Damasco, no ano 34, teve um encontro com Cristo (At 9) que transformou sua história. De perseguidor tornou-se missionário e apóstolo, o maior de todos. Foi batizado por Ananias e retirou-se no deserto da Arábia, preparando-se para sua missão apostólica. Três anos depois veio a Jerusalém encontrar-se com Tiago e Pedro. Quer convencer seus irmãos judeus da verdade sobre Jesus, e começam as perseguições. Os judeus nunca o perdoarão, pois nele passam a ver o maior traidor do povo e da fé. O Espírito serviu-se da incompreensão de seu povo para levá-lo a um outro caminho: a missão entre os pagãos, a todos os povos. Aproveitando o convite de Barnabé, no ano 42 vai para Antioquia e nunca mais parou de anunciar o Senhor e fundar comunidades cristãs.
Empreendeu três viagens missionárias: na primeira (45-48) foi a Chipre e à Ásia menor, tendo como companheiros Barnabé e João Marcos. Acompanhado de Timóteo e Lucas, na segunda viagem missionária (50-52), partiu de Chipre, chegando à Macedônia e à Grécia. No ano seguinte, a terceira (até pelo ano 58), revisitou algumas comunidades, chegou a Éfeso e talvez à Ilíria. No ano 61, preso, estava em Roma, a capital do Império, donde talvez partiu para um missão na Espanha.
No meio de toda essa atividade, Paulo não esquece a comunidade de Jerusalém nem os Apóstolos, com os quais se encontra para confirmar e autenticar sua fé.
Paulo, fundador da teologia cristã
Paulo é o fundador da teologia cristã. Não se conhece a Jesus e o Cristianismo sem a mediação de Paulo. A primeira história da Igreja, os Atos dos Apóstolos, escrita por Lucas, consagra 12 capítulos à missão dos apóstolos e 15 para a missão de Paulo.
Mantinha contato com suas comunidades através de Cartas, das quais conhecemos as enviadas aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, duas aos Tessalonicenses; escreveu quatro dirigidas a pessoas particulares: duas a Timóteo, a Tito, a Filêmon.
O núcleo central do anúncio paulino: a doutrina da salvação de todos através da fé em Cristo, sem a necessidade da circuncisão e da lei mosaica. A salvação pela fé, libertando o Cristianismo das obrigações rituais judaicas. O Cristianismo que nós recebemos é o de Paulo, o Apóstolo das Nações.
Pedro, o chefe da comunidade primitiva
Pedro é a pedra angular que Cristo indicou como pastor da Igreja. Desde o início foi reconhecido como chefe da comunidade primitiva. Após a Ascensão do Senhor, pregou no dia de Pentecostes, missionando depois em Jerusalém e na Palestina.
Diferentemente de Paulo, Pedro permaneceu fiel à tradição religiosa do povo judeu, anunciando especialmente entre eles a pessoa do Senhor. Preso duas vezes, libertado milagrosamente (At 12,17), provavelmente pelo ano 42 dirigiu-se a Roma, ali residindo por 25 anos. Deixou a capital imperial algumas vezes, viajando para Antioquia e Jerusalém. Em Roma já existia uma pequena comunidade de cristãos, e a presença ali de Pedro vai torná-la a cidade central da Igreja que depois recebe o nome de apostólica e romana.
Tiago, João, Tomé, os outros apóstolos
Tiago Maior, irmão de João, foi decapitado em Jerusalém no ano 42.
João deve ter permanecido em Jerusalém até a morte de Maria, que Jesus lhe tinha confiado. A mãe de Jesus é a mãe da comunidade cristã. Depois João vai para Éfeso, cidade donde irradiou sua influência missionária, fundando igrejas e nomeando bispos. Exilado na ilha de Patmos, ali escreveu o livro do Apocalipse. Morreu pelo ano 100, de morte natural. Foi o único dos apóstolos que não sofreu o martírio. João é o escritor do amor de Deus, o homem contemplativo do quarto Evangelho e das três Cartas de João. Última testemunha da era apostólica, era denominado de "teólogo".
Tiago Menor, o filho de Alfeu, era queridíssimo em Jerusalém, comunidade de que ele é o chefe reconhecido. É com Pedro e João, uma das "colunas" da Igreja (Gl 2,9).Vivia austeramente e na fidelidade inabalável à lei do Antigo Testamento, recebendo o nome de Justo. Escreveu às "Doze tribos na diáspora", a Carta de Tiago, testemunhando assim seu amor pelo povo judeu. O sumo sacerdote Anás o condenou à morte e foi apedrejado no ano 62.
Segundo a tradição, Tomé pregou o Evangelho na Índia, Bartolomeu na Arábia do sul, André na Ásia menor. Mateus também deixou Jerusalém, indo para a missão entre os pagãos. Dos outros apóstolos não temos notícias. Sabemos que todos partiram para o anúncio do Senhor e por ele derramaram o sangue.
Esses homens rudes que contemplaram Jesus face a face, chamados pessoalmente para formar seu primeiro grupo de discípulos, foram tomados por tal fascínio pelo Mestre que nunca mais deixaram de falar dele, fazendo da história cristã uma grande história de amor.
Deixaram tudo e o seguiram, para sempre.
Fonte:
* O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco.

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